segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Repostagem - O amigo que eu nunca tive.


Bem, todos sabem da minha perda juvenil, e aos que não sabem, esse texto é dedicado ao meu amigo Vinícius que faleceu de leucemia, esta é uma carta de despedida, é algo que queria renovar aqui no Orbis Pictus, ter um texto destes perto é como um conforto pra mim, sem mais, The Friend i never meet:

É amigo, cinco anos, hein? Deixou pra trás seu coração, sabe que tantas coisas já aconteceram? E o vento traz consigo as lembranças, ah... Bons tempos, não? E a chuva cai com o seu sorriso de sempre e dilacera quando a noite chega. E as nuvens de domingo cortejam suas viagens—Vais tão cedo?—Elas dizem.

Sabe que as folhas bailam em tua homenagem? Eu fiquei... Eu fiquei... Guardo pra ti os presentes.O mundo deu mais uma volta, e até hoje a dor é a mesma, daqueles tempos que o sol ainda brilhava e os lampejos voltavam ao seu leito. A brisa te levou tão suave. Quando a ventania traz sua presença, eu nem sei o que dizer, sempre está comigo, não? Levou boa parte de mim, meu velho. Voltando em mim em cada alvorecer, os passos ainda meio tortos, olhos cansados demais, o tempo não parou e tende a distanciar-se.

Instantâneo demais, como se pode plantar felicidade assim? Não posso mais retribuir o favor, é o que mais me dói. Viajo pelos sonhos à procura do valor centesimal, estrela cadente-ascendente. As peças não se juntam aqui, dentro, bem lá dentro. Aonde eu tinha ido quando aconteceu? Velho amigo, espero que ainda aceite minha amizade, nem pensaria duas vezes se pudesse tirar essa falta, trazer de volta e ir em seu lugar, mas faço melhor, vivo duas vezes, vivo por todos e tenho uma queda feliz, porque foi você quem fez meu outono, não se luta com a vida, não é? Depois de tanto tempo seu rosto vai se desmanchando na minha memória, seus atos vão perdendo a intensidade, eu também. Eu nunca me despedi.

Como se o vento me abandonasse e a cor me aplaudisse de longe, gelado demais aqui. Gelado demais... Disritmia, o tempo aumenta o badalar, essa serenidade não é qualidade não. Dilacera meu ser em impotência, o sol ameno ainda ofuscando meus olhos, preferia mil vezes o desespero em sua presença que a felicidade total sem ti. A mínima brisa me balança—Ande, vá em frente—diz puxando minhas vestes, sorrio mil vezes para o céu, mas ainda assim ando olhando para o chão. Fugindo? Não, só envergonhado. Só envergonhado...

Duas árvores gêmeas semeiam a porta para o céu e o inferno. Dizem que foi ali que o homem mais perto de Deus morreu. Eu me perdi justamente porta afora, podendo ainda avistar o farfalhar de suas folhas, o grito de sempre entalado, palavras que nunca foram ditas, cadernos que nunca foram escritos, domingos que nunca vivi, sonhando demais. Humano é um ser frágil demais, eu busquei até no inferno, pode ter certeza. Nunca te achei e sei por quê. Único lugar que eu nunca vou alcançar homem que anda pelos sonhos, mentes e corações sem nunca se segurar, estando rodeado e só, se compreendendo somente, andarilho.

Seu caminho é outro, e neste aqui tento suportar a estrada sinuosa. A minha roupa é de retalhos, sim. Minhas sandálias já estão gastas, sim. E contigo, está a melodia de espera. Melodia que nunca acaba e que em cada acorde eu posso ver que já se passou, nem notei que se foram cinco anos e agora eu digo, Obrigado. Cinco anos, hein? Deixou pra trás seu coração.

Adeus e até logo.

L.

Um comentário:

Edmar Moreira disse...

Belas palavras. Quão saboroso seria o fruto da árvore chamada amizade se essa derradeira tristeza não tivesse acontecido né Lucas? Sinto muito pela perda, mas parabenizo pela sensiblidade e sutileza das palavras...