sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Catarse

Ato I—Passado.

Ebenezer cochilava ao jantar, fazia da sombra seu par. A vela crepitava lentamente, meneando seus cabelos de sol sobre o ar, a cera deslizava tinhosa, secava chegando ao cinzel. A lua brincava lá fora, cantava uma bela canção... Ao velho que sonhava ser moço.—Sonhava aquilo que era. — O tempo passava a ser frágil. Silencioso entre ataques de artrite. O sono veio de velho, de lasso, de combalido. Visava ser franco e honesto, levava os dotes do velho,daquilo que mais amava...

Cortinas sambavam ao vento, foxtrot dos tempos modernos.A sopa esfriava aos poucos, sopinha de alho poró. A mão reclamando a colher, dissabor da sopa de pedras. O terno das compras de inverno, de anos atrás de lembranças. Retalhos: O panos de mesa. Retalhos: A alma do velho. Umbrais que jaziam cansados, átrios até dizimados. Defesas então? Suplantadas. Restava acorde dos velhos, espera da morte e do tempo. Aqueles que nunca chegavam, quem sabe talvez, tão distantes.

Relógio marcava às três horas, três dias de leve mormaço.Rouxinol cantava tão triste, cantava em prol da miséria, da alma, das parcas palavras. Badalos soavam possantes, vagavam sem longo destino,morriam cansados e tristes, na noite de inverno sofrido. Talvez por tão alvas madeixas, por ter tão louvadas doenças, podia ser, pois,perdoado. Que a fim de expiar seus pecados, vivia tão cego e sozinho.Sentia se senhor da tormenta, mas só, e só em seu mundo. –Coitado do velho guerreiro, largado no raiar da noite, do fim do dia da vida.

Do umbral um escuro abissal, asado e de porte modesto,fitava com seu champanha, seus olhos de fogo batido. No bico,ininteligível, posava de astro da morte, levando o corpo de gala.Quitava presságios soturnos, deixava a foice de molho. Um corvo!Pudera tal zelo, só ele velava sem pressa, sem fome, sem gula aparente. –Acorde!—Distou ele, agudo. —Acorde, fulgura alma torpe! A noite fizera de morte seus olhos de sono abatido. —E dada iminente surpresa, o velho caiu da cadeira. Olhou de esguelha o bicho, fingindo não ter compromisso. —Xô! Seu demônio enrustido, deixe-me aqui aturdido, ao quer que me queira disposto, perante altas horas da noite. Não quero dizer grosserias, só quero sossego e conforto, pois minha'lma não gera conforto e tão logo, distante sossego. E guerras com o próprio egoísmo, e trevas no meu poderio, conquanto disfarço de mim, enganos e alegorias. A voz que destoa infante, influências em grado motim. Já basta! Se afaste de mim!

Não suporta nem as próprias palavras, do véu e do céu,tudo irrita. Beirando a loucura fantástica, se achando o deus dos cem mundos, sem mundos (?) da corte em feudos, divide a glória em estâncias. Divide lembranças em virtudes, felicidades em vicissitudes,embotam em manchas o passado, do velho então consumido. Pudera estar sonhando, ou olhos confabulando! Mas sonhos não doem as costas, os dedos, a perna e artrites, por isso se via menino, com medo até das montanhas. Voltou atenção ao seu prato, preferiu dar-lhe ao gato...Proveito melhor se teria.

O corvo cerrou ao encalço, deixando a presa sem rumo,fitou-lhe a cara enrugada. Vetou, abriu asas, calou. Silêncio, terror e cadência, o breve e maior momento. O velho tropeçava nas tabas, o corvo tropeçava nas covas. —Tecelão da morte quem dita, não sou eu nem valete que grita! Não é morte assim que vos trago, sede calmo, em vista vos salvo... São almas que mandam seu Hermes, mensagem que aplaca o pavor. Em três que hão vir pela noite, ao toque das três a três horas, patife, prepare o pobre rigor, pois visitas terá de agradar.

Voou, pra bem longe voou, um ser que a mãe noite abraçou, pregando estrelas no céu. O velho tombou a cabeça, na mesa que ainda estava, vacilou os pensamentos lembrando—Seria um sonho qualquer? Pesadelo sem graça, sequer?—Duvidava ainda em seu sono,poderia ser ciência de seu tomo? Desistiu de entender os seus votos,subiu por seus ombros tortos, aquilo que chamava de escada. Expulsou o cachorro da sala, xingou seus antecedentes. Amaldiçoou até mesmo contente! Coçando seus olhos ardentes. A noite por si terminava,trancou a porta à seis chaves, visou de vigília as três travas.

"Espíritos não chegam à noite! Nos sonhos ou tão distante! Corto-lhe a garganta cá foice! Entrego as tripas à sorte!"Pensou o velho em sei leito—Sem temor assim eu me deito!—Firmou o seu carma, segurando na mão, espingarda. Pôs cousa então na estante, a vela então obstante, resignada aos falsos espíritos.Barrete caiu sobre os olhos, visando seus tomos notórios, da noite quese fazia em boreal, contraste tão solo e sem igual.

—Aos sonhos eu hei de frustrar, Caronte visou em mandar,sua alma de mais torrente, que flui sobre as águas do mundo, que flui sobre os passos incertos, vigília dos donos do inferno, os pecados que então cometidos, a tal servo terá de pagar. De nome então, Serafin,dos anjos outrora caídos. Da terra vaga ao norte e ausente, ao sul vaga errado e contente. Ao leste, ledo então, enganado. Oeste, ao que o mundo fizeste, esquecido e então, coagido.

Assim parou o anjo solene, trazia na mão o seu leme, que fazia de posse a Caronte. Sorriu com seus olhos tão tristes, na falta de melhores instantes, quietou junto aos cantos distantes, do velho que tremia em constantes. —"E o vento, então, volvendo, toda alma em mim, ardendo, de visitas nunca antes tais, loucura tão dura?Jamais!"—Pensava em reposteiro frouxo, lutava pra não ser coxo, ou escravo dos próprios demônios. Apontou sua arma e falou. —Senhor, de certo me desculpais, sou um velho e nada mais, de nada há de valor em meus ais, só um tolo e seus postais...

Ao anjo, parecia esconder seu legado, interrompeu levantando seu dedo, tirando o velho de seu degredo. –Ao que me tens concedido, ao tempo que me foi havido, não vou fazer musicais, destes tomos celestiais. Deixeis que eu esteja em certeza, que ponha as cartas na mesa, bendita bondade infinita... —Mentiu o anjo ao agrado,encantando mais pelo fado, em beleza ante pobres palavras. –Porém hei de dispor rituais, para voltar sem demais, logo aos teus ancestrais.Ao verdadeiro propósito, sou o fantasma Passado, aquele que se foi sem contrato.

Ao tal parente, ou transparente... O espírito abriu a janela, quedou a passar por ela, estendendo a mão, ou o que seria dela. O velho acuou seu espírito, expulsou seus temores e vícios.Arrastou as chinelas às traves, acreditou então nas conchaves. Olhou sobre o ombro lá fora, chegava a chegada hora, de enfrentar ora pois,aos seus erros. Tremia de todo ao estorvo. –"Não pode ser tão surreal,ou lógica assim desigual, mas de belo ou de grande me encanta, que até aos meus males espanta, mas perder a vida não tida? O que tenho então a perder?"—E a noite velava os caminhos, daqueles que andavam sozinhos. Dos pregões vazios do céu, operário de noite: Argamassa,operário: de estrelas de pregos.

De lua que se escondia nas nuvens, escondia por ter-se de inveja, por venturas tão só assistidas, venturas tão só, suspiradas...Mas antes que se zangasse impotente, Ebenezer caiu da morada, e em queda a vida passava, em seus olhos um pobre menino, do abrigo que o mundo lhe dava, em valor do valor lhe tirado... Seus olhos abriram espantados, estava no meio da rua, devia ter seus dez anos, junto a torpe alma dista de graça.

A rua apinhada de gente. Transeuntes fitavam contentes as lojas que se enchiam em instantes, vendiam os livros da estante. O sol bocejando tão cedo, caminhava no anil do infinito. E o garoto fugido de amor, roubava com olhos de gula, aquilo que nunca comprava... Felicidade. A alma deu mão ao menino. —De tão novo já se entende ao povo. Magia? Disenteria... Fitando por trás dos retalhos,fazendo dos sonhos, frangalhos, e de almoço seu Deus.

Passado por si apagado, do nunca que havia caçado.Vergonha daquilo que era, de tudo, talvez, que não tinha. Faltavam-lhe ossos mais largos, ou olhos com cores de lagos; de largo só tinha as orelhas, de lago, a disfunção uretral... O que tinha era de órfão, de mundo que fazia bastardo, fazendo de almoço o seu fardo.

Moveu-se ao muro de piche, lembrava de seu beliche que de alto se fazia elevado (E só desse jeito, pudera...). Madona dos olhos de gueixa chegou pela praça falando. —A que te cumpra de companhia, que saia de tal fantasia... Querer, ora pois, do seu jeito,sem sequer cuidar do seu leito?! E pedir, exigir, preferências?! Desça do muro, ao mundo, vagabundo! Que o inferno está cheio de glória, de almas tal qual a tua!

Garoto franziu o cenho, desprezando qualquer empenho,cá dona se esforçava em fazer. —Eu não me importo com nada.—distou—Nem Boto, Saci, ou em Fada. Talvez me disfarço de gente, na necessidade de comer um prato quente.—Quedou em sua vez, displicente.Fugiu ao açude em virtude de buscar sua real atitude. Vagou a subir a choupana, chupando um pedaço de cana. —Queria ver o moinho, ele me deixa sozinho...

Correu sobre a rua asfaltada, pulou para o ramo de escadas, fazendo as telhas de estradas, desviando por entre as sacadas. —"No mundo não existem estradas, pois ao largo se viaja solo,estradas, são cousas seguidas, seguidas por todos os tolos, vida é cousa sofrida, se abre caminho cá mão."—Pensou ele aos pulos dos cegos.

"E sentimentos? São cousas mais bobas, só vejo o que a mim eu produzo, por isso me faço de mundo, me perco no meu infinito,no mundo das mias palavras."—Da rua de pedras à rua de terras. Chegou ao riacho em vertentes, perfeito pra dias mais quentes. O sol começava poente, canção de eterna potência.

Chegava ao Reino das Fadas... Ou quem sabe ao Reino dos Fados... Dos dentes-de-leão subjugavam, as arvores que em tarde cantavam. Embalos ao som da ressaca, ao riacho tocando alaúde, fluindo acordes à noite, do engano que estava pra peixe. Ao som do silêncio da vida, valia, buscava de si, companhia, nomeando a sombra o seu cavalheiro, de escudeiro e guerreiro em seu somos, somente, boneco ventríloquo. Louco, loquaz, por ele, ao fio a sofisma reinava, mandava a sombra incutir o seu reino, covardia fazia o sujeito.

Não queria que ninguém chegasse, olhando desconfiado,ficado assim em seu grado. O mundo o fizera de santo, por ser o motivo do seu pranto... Enganado na sua verdade, mentira, do mundo que não conhecia. Seria desconfiança, motivo da sua distância? Desconfiança é pra quem espera, motivos pra se desprezar, por isso olhava distante,querendo chegar instante, que ao longo apareça um semblante.

Viu distante garota dos cachos de mel... Parecia vinda do céu, em seus olhos até fogaréu! Cruzava riacho com suas sandálias,prostrava em direção ao menino. Garoto caiu visando o momento,improvisado com seu cata-vento. —Donzela que fazes tão longe da vida,mereço sê alma sofrida? Quem sabe, então, merecida, de praxes castigos insanos? Comum ninguém é eu vos digo, sou anjo! O maior de todos! De alto, soberbo! De tolo e de bobo, ao mundo que acha errado. Crenças são para fracos, acredito, acredite na minha potência!

Reverências. Estigmas, proles e maneiras. Ética só existe hipoteticamente, pois, se faz de hipocrisia. Maquia real interesse do lobo. Do lobo em prol de menino. —Limites, só tenho aos céus, céus que não meçam distâncias, atravesso qualquer estância,atravesso por toda ganância!— O garoto falou. Mas por então falar não ter limites, impunha por isso limites? Objetivo não são limites?Enganos: As máscaras torpes, Enganos: O rosto por trás da máscara,Engano: A face por trás do rosto.

Humanos, conjuntos de erros. A garota era uma só ilusão, daquilo que acreditava, do mundo que ele esperava, de tudo por qual ele andava, embora em suas vãs filosofias, na verdade buscava Sophia, aquela que não existia. Vagava errante e distante, por ser sempre em modus operandi ao destino que acreditava fazer. Escravo de seus pensamentos, escravo de ensinamentos, fazendo da sua doutrina de outros, verdade que os outros mentiam.

Acabava por sempre sozinho, suportava as verdades no ninho, volvendo a cidade dos velhos, por entre os todos, sozinho, das palavras nem a si entendido, pois, palavras lhe tinham aos montes, mas irreais, ressoavam vazias, motivos quem sabe... Não tinha... Voltou para estrada da vida, voltou ao castigo da alma. — Que a morte só seria grado alívio, que viver é verdadeira valentia. Que tu nunca tiveste livre-arbítrio, que morrer é a suma garantia. Hasteias tua bandeira e conserva para ti os teus medos, indo-me embora, agora te deixando sem definição. E que busque sozinho tua própria solução.Donde não há remédio nem cura, vaga sem minha ajuda, ao véu dos teus males eternos.

E como estória de lenda, fez no coração do garoto uma fenda, que o sangue transbordava como prenda. E do leme transpassou seu coração pequenino. —Que da dor vai crescer em vão, que mesmo jazendo ao meu chão, não se ache o melhor dos irmãos, guiai, pois,então, por seu pobre jargão. —E a noite os prendeu no fim de tal morte, o começo. A lua platinava e entrava no pobre pequeno, da maldição que os anjos fadavam, de tal grande se fazia cego e a queda é de todo, é fatal.

Girava ao leme a roda da vida, de lúdico ao pudico o anjo vos disse subindo aos céus—Servi sumus legi ut liberi essemus.—E se fez dissoluto sobre o mundo.

Fim do ato I

Manchas de Memória

E ledo, incutido por uma luz que investia dominante por entre o leito, de um estofado de papel esterilizado e colcha que pinicava, de parafernálias, num estetoscópio me fundia a tez, donde um arfante eu, incubado e dissoluto, morria. Atacado, me prostrava risível ao encanto do réquiem. Na ala hospitalar, enxergando o fim dos maiores anos de minha baixa vida. D’um tráfego por entre minhas memórias, pudera falar, mas ultrajado por um tubo de oxigenação eu não me deixariam clamar... Além disto, estava cego demais para quaisquer contatos e era melhor, ver o mundo em arte, em aquarela.


Dentro da córnea, jaziam feita viagens, que me encontrava aos sonhos da jovialidade, numa praça e dentre tantas pessoas, meus olhos procuravam por ela. Do vento brincando comigo, do sol ainda amigo, estava eu a andar de bicicleta, o barulho da catraca tão velha quanto eu agora, guinando a bicicleta de aros tortos, dum garoto que era, desnorteado em pulso, guidom.
Lá estava ela, estava em roupas caseiras, em um vestido de alças, branco florido... Sentada num banquinho de pedra, com a luz do sol em seu sorriso. E o vento a balançava fracamente de seu cancro. Tentava, eu, seu consentimento e aprovação? Talvez procure isto até hoje.Indubitavelmente, o que importava, estava no meu sorriso aberto de minha infância pueril.


“Olha mãe! Consegui! Veja!” Eu dizia na bicicleta sem o controle do manche, e eu, velho e distante, olhava minhas memórias de longe, como um expectador irrelevante. Como se me percebesse, ela deixou minha imagem nas memórias antigas e veio ao meu encontro, eu estava mais velho que ela... Ela se agachou, como quem falasse com uma criança, “Se machucou meu filho?” olhei-a com tristeza, nada havia mudado, minha voz saiu cansada e professoral “Não mamãe, estou bem...” disse sentando no balanço, que rangia nas engrenagens arcaicas.


Me vi caindo da bicicleta na banco de areia, ralando o cotovelo, o garotinho levantou e ajeitou as roupas, agora sujas... Agüentando a dor como o homenzinho que era, com orgulho no olhar, com íris faiscante de alma em espada e vontade em cunho. A mãe foi até ele lhe beijando o cotovelo, me peguei emocionado, velho e amolecendo... Tossi algumas vezes, a idade era devassa e como o casmurro que era, acometi pensando alto “Não mamãe, não é mais assim que se resolve as coisas hoje...” Ela se levantou, deixando seu filho voltar a bicicleta e voltou até mim “Não, Lucas, você sempre teve vergonha de mim, da minha labuta, sempre com vergonha”.


Me afastei balançando a cabeça negativamente, desde que fui aluno dela na escola, ela espalhava a dizer coisas sobre mim, da minha treva, achava bonitinho lhes falar de como me pegou uma vez, escondendo a foto de uma das garotas da sala da qual gostava, e ela nem sabia que tal garota, se sentava na minha frente... Das tantas coisas que contava, achando ser uma graça, que para mim, desgraçava... Ela me tirou do devaneio dizendo “Nunca tive vergonha de você, me orgulhava demais...” Empurrava meu corpo com as sandálias gastas, o balanço rangia mediante meu peso, fugia do olhar dela, que ela enxergasse o quanto mudei, do quanto eu não era mais aquele garoto que ela criou.


“Nós nunca conversávamos, nunca tinha tempo, não é mamãe?” Ela negou acenando “Não filho, você era difícil, era inteligente, independente, indiferente, mas sabia que te tratava bem, porque via que você limpava o prato da comida e nunca reclamava! Mesmo nunca elogiando...” E você me elogiava, mamãe? “Sempre!...” Ela parou de falar quando viu que eu discordava “Nunca pra mim”, fechei os olhos, inspirando pesadamente “Era difícil aquela vida, meu pai, meus estudos, minhas ocupações...” Ela consentiu “Sem amor, sem companhia, todos erramos...” E desci as escadinhas com a mãe ao encalço, dos garotos agora difusos em minha memória, como cavalheiros da Andaluzia brincando de pique.


Ela tirava alguns volumes grossos da sacola, três grandes compilações, “Meus livros!” ela disse com um sorriso infantil, passando a mão e se deliciando com a textura, os livros eram meus, era até algo tão sutil, pois ela nem conseguia ler mais, mesmo assim folheava as paginas deles, como se fossem dela. “Bonitos livros” Ela disse cravando os dedos nas dobras. “Como pode dizer que são bonitos, se a senhora é incapaz de saber o que conta neles?” Ela levantou pra cima em raiva “Não diga besteiras, sonso! Bonitos livros” Disse ela, olhei para o céu, seria aquela a aprovação que eu tanto procurava?


A resposta, para qual esperava, veio anos depois. Enquanto o trem balançava, me tirando de qualquer devaneio, tendo em média uns 30 anos, meu reflexo refletindo na janela, tremendo, impassível. Ao fundo, a paisagem se abria em montanhas, em final de tarde. Indo em direção da mãe enferma na capital, câncer terminal, seria então minha ultima provação?
Foi então que cheguei na cidade, ainda era madrugada... Os postes em vigília, minha única companhia até o hospital. Nele, já me pus dentro do corredor ante as indicações da recepcionista, fim do corredor, quarto 408, encostei a mão na maçaneta, temendo o que eu poderia ver, decidido eu...


“Desfibrilador” Disse uma voz distante de um médico encima do meu corpo e acima das minhas memórias. “Desfibrila...”